Quando somos pequeninos, o "monstro do armário" está presente em todas as birras, "sem-sonos" e afins... Decidi criar uma história com o suposto monstrinho que nos punha "down":
Era uma vez
[este tipo de histórias tem de começar *SEMPRE* com "era uma vez"], uma menina. Era muito linda e bem comportada: tinha uns cabelos doirados que rodopiavam ao sol, pele macia e branca, olhos grandes e azuis, e falava tremelicando docemente os olhos, abanando os cabelos encaracolados e sorrindo, mostrando a boca desdentada. Mais ainda, rodava nos seus sapatos rosa, de cabedal e deixava que o vestidinho branco lhe voasse um pouco com a brisa. Na escola, era preveligiada e todos gostavam dela. Era muito popular. A menina sentia-se uma estrela! E sonhava: Anita, a grande estrela da escola! A celebridade de 6 anos! E saía nas capas das revistas, todos a fotografavam, etc. Sonhos de uma criança inocente (ou não). O pior era quando um bicho feio e peludo e agarrava, deitava os paparazis abaixo, saltava todos os prédios e levava-a para um mundo horrivel, onde o céu era negro e toda a gente gozava com ela. Nessas alturas, Anita acordava a meio da noite, nos seus lençois de cetim, e, na sua voz esganiçada e estridente, gritava:
- Maiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiie!
A mãe acorria logo!
Soluçando: - O bicho feio e peiudo roubou-me! Mãie! Não deixes que ele me roube! Nãaaaaaaaaaaaaaaaaao!
E a mãe, com a paciencia de uma santa, agarrava a sua menina mimada, chorona e medricas, baloouçando-a docemente no seu colo.
[Pois! Porque a menina era muito mimada e birrona, que pensam?]
E depois a escola... Todos a adoravam! A celebridade!
Mas de noite! De noite! Bichos papões e feios, mais gritos, mais colos, mais mães a socorrerem o seu anjinho imaculado, estupido e caprichoso!
Só que uma noite, num dos gritos mais estridentes directamente da sua colecção guinchos ensurdecedores noctivagos, a mãie perdeu a paciência.
- Anichucha! - berrou. [pois, porque era sempre a "Anichucha da mãmã" que fazia as coisas!] - Não gritas mais! A mamã perdeu a paciencia! Todas as noites, sem tirar nem pôr, tu me gritas, a dizer que o bicho papão de apanha e te rouba! Todas as noites, sem excepção!, tu chorar e babas-te ao meu colo! E eu estou farta, Anichucha! Farta! A menina da mamã acabou, Ana! Já não há a grande Anita! Sempre medricas, a agrarrares-te ás saias da mãe! SEMPRE!
- BUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUÁAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!
E foi aí que o caldo se entornou! O pai veio, gritou até ficar sem ar nos pulmões e, todo vermelho (não sei se por gritar tanto ou por ficar sem ar) pôs Ana de castigo. No quarto, sem pequeno almoço, sem jantar, e sem vestidos! Anita berrou, esperneou, chorou de raiva e de desconsolo, praguejou, saltou, pulou, empinou-se, rebulou, mordeu a almofada e bateu no pai. De nada serviu.
Ainda ela gritava, agarrada à almofada, quando a porta do seu armário despido se abriu, e uma criatura estranha saíu de lá de dentro. Ela berrou
- Ana! Mais um berro e eu vou aí dentro! NÃO ME OBRIGUES A IR AÍ DENTRO!
Gritando: - ESTÁ BEM PAPÁ!
E lá estava o bicho. Feio, peludo, igualzinho ao dos sonhos.
- Quem és tu?
- Eu sou o Mário Pestana, e tu?
- O... O quem?
- Mário Pestana - disse o monstro.
- Quem é esse?
Abanava de novo a cabeleira. Um hábito piroso e pomposo.
- Eu. Sou irmão do João Pestana.
- Ah! Esse. Não sabia que tinha um irmão.
Por alguma razão, Anita não conseguia deixar de achar graça ao bicho. Tinha bra~ços e pernas, cabeça e isso tudo. Mas era muito medonho. Já não tinha pelo, mas era pelado.
- Pois. Já estáva à espera da tua reacção. Ninguém me conhece! O meu irmão traiçoeira, aproveitador e mimado minou-me o caminho!
-Pois, pois. A tua história não me interessa. Só quero saber se me podes ajudar a sair daqui, a ir buscar os meus vestidos e comida e sair desta casa e nunca mais voltar!
- Não sei, não. também me pareces muito mimada e birrenta!
- PapÁAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!
- Ana Maria Conceição!
-AAAAAAAAARgh! Tira-me daqui João... (Mário) mÁRIO! Ou isso! O meu pai vai-me bater! Ajuda-me!
O monstro abana a cabeça.
- Pensa melhor no que fazes, Anita! Adeus.
E salta para dentro do armário.
Lá vem o pai! Abre a prta, já vermelho, o peito a subir e a descer com a respiração acelerada. É tudo ou nada. Tenta saltar para dentro do armário, mas........... O tempo não lhe chega. Quem lhe chega é o pai: uns bons açoites nunca fizeram mal a niguém! Especialmente a alguém como a Anita.
E aqui termina a parte I!