quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Reflexo

Cheguei a casa, desejando escrever algo de poético, de diferente. Épico. Mas é claro que o inalcansável é ser imaginável. É óbvio que não irei escrever algo de tremendamente poético, talvez diferente, quanto mais épico.
mesmo que queira muito.

Então, comecemos apenas com um dia chuvoso. Em que as gotículas furiosas furam energicamente o ar, encontrando a calçada, e rebentando quais bombas no chão de pedras irregularmente regulares. Formando um quadro bonito. A cidade é antiga, não podre e decadente, mas de reinos antigos, vem do passado, da história. Janelas mal reforçadas contra este tempo vêem a chuva cair impetuosamente. Misturam as chaminés com o ar aquele cheiro a queimado, tão bom, tão húmido neste dia. E o fumo sobe na atmosfera e sorri, encontrando as nuvens, bonitos cúmulos negros e carregados de electricidade que farão chorar as criancinhas lá em baixo, com os seus trovões fortes. E o vento que aí vem, arrastando as folhas e os ares das terras nórdicas. É num destes dias que uma rapariguinha, de cabelo amarelo, que não tem medo da trovoada espreita pela janela, arregalando os olhos azuis e afagando a trança emaranhada, pensando para com cada margarida do seu vestido beije o quanto desejaria ter asas e voar. Umas asas negras como a noite, mas leves tal qual folha, mas agrestes como uma sorrateira manhã de Inverno. O seu reflexo confunde-se com o rodopio de chuva que lá fora agarra mais um guarda-chuva, oferenda para o deus da tempestade. Mas a menina é ateia. Não há deus da tempestade. Há uma grande nuvem empurrada por uma fada má que faz chover raios e sons melodiosos. E depois, a sua mãezinha que é o sol. A fada má aproxima-se e faz chuver mais electricidade, que arrepia a espinha da pequena rapariga, e solta mais sons, já não tão deliciosos, quando o seu pequeno filho corre na chuva.
"Vem cá" diz ela.
Mas ele não vem. E sume-se na escuridão.
E, como sempre, livrará a pequena rapariga que saltita agora contente na caçada molhada da rua, das paredes que a prendem da tempoestade e do contacto permanente com a essência.







Não foi, de longe, o melhor que escrevi. Eu disse. Depois não digam que não avisei.

2 comentários:

Anónimo disse...

tão giro!! ^ ^ sim senhora, gosto deste!

mas não irregularmente regulres, é regularmente irregulares!!! nhe nhe nhe, ve-se mesmo que nao és da europa do leste, aqui como moi .|.

Anónimo disse...

Gostava de saber como é que com o teu tom de pele podes ser da Europa do Leste...

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